Além da aflição que tem
provocado entre os moradores de Barão de Cocais (MG), o risco de rompimento da
barragem Sul Superior da mina de Gongo Soco, da Vale, tem prejudicado a
economia do pacato município de cerca de 32 mil habitantes.
Desde o último dia 16,
quando o Ministério Público de Minas Gerais tornou pública a
informação de que a própria Vale, em documento oficial, informou que uma
deformação no talude norte da Cava de Gongo Soco indicava o risco iminente de
ruptura do talude, quatro agências bancárias suspenderam parte do atendimento.
Também os Correios fecharam temporariamente sua agência na cidade.
O Banco do Brasil confirmou
que, “em razão da iminência de rompimento da barragem de rejeitos”, decidiu
“contingenciar” o atendimento local, instalando um contêiner para atender os
clientes enquanto avalia a realocação da agência. O contêiner será instalado
“em local seguro” indicado pela prefeitura. Até lá, o banco orienta seus
clientes a usarem os caixas eletrônicos existentes na cidade. Ou a buscarem
atendimento presencial na agência de Santa Bárbara, cidade a 10 quilômetros de
Barão de Cocais.
Barragem Sul Superior da
mineradora Vale, localizada em Barão de Cocais (MG) (TV Globo/Reprodução)
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O Itaú-Unibanco também
afirma ter fechado temporariamente sua agência no município por “prezar pela
segurança dos clientes e colaboradores”. Segundo a instituição, a agência
permanecerá fechada até a normalização da situação da barragem. Enquanto isso,
os clientes serão direcionados para a agência do centro de Santa Barbara.
Segundo o secretário
municipal do Desenvolvimento Econômico, Juvenal Caldeira, Caixa e Bradesco
também suspenderam o funcionamento de agências locais. O que, segundo ele, vem
prejudicando a população e os empresários, que precisam se deslocar até Santa
Bárbara, e a economia local.
De acordo com o
coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio
Godinho, houve uma “potencialização” do medo em Barão de Cocais. “Qualquer
aeronave que sobrevoa a cidade causa um temor entre os moradores. Eles acham
que se uma aeronave está passando é porque o talude se rompeu”, disse Godinho à
imprensa, hoje. Segundo o coordenador da Defesa Civil, a decisão dos bancos de
fecharem suas agências foi “desnecessária”.
“Já os notificamos,
demonstrando que [caso o talude ceda e a barragem se rompa] os locais onde as
agências funcionam, em Barão de Cocais, [demorarão] cerca de 1h30 para serem
atingidos por rejeitos”, acrescentou Godinho, pedindo aos bancos e aos Correios
que reabram suas agências. “Se deixamos de prestar um serviço de utilidade
pública quando as pessoas estão enfrentando uma situação de crise, acabamos por
potencializar a crise”, acrescentou o coordenador, garantindo não haver como
saber previamente se a queda do talude resultará no rompimento da barragem.
Boatos
O secretário municipal do
Desenvolvimento Econômico, Juvenal Caldeira, diz que a situação também fez com
que o movimento de turistas na região diminuísse bastante. “Pessoas do país
inteiro veem estas notícias e, se estavam pensando em visitar a região,
desistem ou adiam a vinda”, disse Caldeira à Agência Brasil, ao lembrar que
milhares de turistas visitam a região anualmente, atraídos pelas belezas
naturais do Parque Nacional da Serra do Caraça . De acordo com o
secretário municipal, cada nova determinação ou simulado realizado pela Defesa
Civil de Minas Gerais também aumenta a tensão entre os moradores.
“Sei da importância das
ações de prevenção e que a Defesa Civil estadual é das melhores do país, mas
toda vez que ela determina uma nova ação há um alvoroço”, comentou Caldeira,
revelando que, por conta deste “alvoroço”, um dos maiores desafios para as
autoridades municipais é combater os boatos e mentiras divulgados pelas redes
sociais. “A Defesa Civil orienta a empresa e as autoridades a adotarem medidas
preventivas para minimizar os riscos e evitar uma tragédia, mas ao ver
carros-pipa com água potável estocada e geradores reserva em postos de saúde, a
população pensa no pior. E muita gente sai divulgando o que pensa. Tanto que
nosso maior desafio tem sido combater as fake news a fim de evitar alarmismo.
Não temos porque esconder a verdade, mas há muita notícia falsa, muito
“achismo” que temos que combater”, acrescentou o secretário municipal.
Segundo o secretário
municipal, o comércio em Barão de Cocais está “parado” e os bancos “pecaram por
excesso de precaução” já que suas agências se encontravam em locais com risco
mínimo de serem atingidos pelos rejeitos da mina. Avaliação com que concorda o
diretor de comunicação da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de
Barão de Cocais (Aciabac), Bruno Chausson Quintão. “Para qualquer tipo de transação
que precise ser feita em uma agência bancária, as pessoas precisam ir a Santa
Bárbara. Quem não tem carro, precisa pegar um ônibus de viagem que vem de Belo
Horizonte. Então, há ônus para as pessoas. E menos dinheiro circulando no
município, que já vem sendo bastante prejudicado por toda a repercussão
negativa”, disse Quintão.
Para tentar minimizar o
impacto, a associação comercial está pedindo ajuda financeira da Vale e apoio
institucional da prefeitura para um projeto de fomento ao desenvolvimento econômico
e turístico da cidade. “Os comerciantes estão mantendo seus negócios abertos,
trabalhando com promoções para atrair fregueses e manter os empregos. Queremos
criar uma marca para a promoção do município, que não conte com dinheiro
público, mas com apoios”, finalizou Quintão.
Vale
Em nota, a Vale reforçou
que, desde fevereiro, quando o risco do talude da mina de Gongo Soco ceder foi
identificado, vem adotando todas as medidas preventivas para garantir a
segurança dos moradores da região. Em fevereiro, a mineradora retirou,
preventivamente, os moradores de um povoado nos arredores de Barão de Cocais
cujas casas estão na Zona de Autossalvamento - a primeira a ser atingida pelos
rejeitos caso a barragem se rompa. Além disso, a empresa afirma apoiar a realização
de simulados para preparar as comunidades a lidar com qualquer cenário
possível.
“Tanto o talude da mina de
Gongo Soco como a Barragem Sul Superior estão sendo monitorados 24 horas por
dia e as previsões sobre deslocamento de parte do talude, revistas
diariamente”, afirma a nota, sustentando que (conforme dito também pelo
coordenador-adjunto da Defesa Civil estadual) “não há elementos técnicos que
possam afirmar que o eventual deslizamento de parte do talude poderia
desencadear a ruptura da barragem.”
Fonte: Agência Brasil
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