O Ministério da Educação (MEC) está finalizando um
caderno que explicará as diretrizes, os princípios e os objetivos da Política
Nacional de Alfabetização (PNA). A intenção é que as escolas passem a
alfabetizar as crianças no primeiro ano do ensino fundamental, ou seja,
geralmente aos 6 anos de idade.
A orientação está em decreto publicado no último dia 11
no Diário Oficial da União. A política prevê ajuda
financeira e assistência técnica da União para os municípios que aderirem ao
programa, a elaboração de materiais didático-pedagógicos para serem usados nas
escolas e o aumento da participação das famílias no processo de alfabetização
dos estudantes.
A ênfase da alfabetização no primeiro ano é uma das
novidades. Em 2017, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que
define o mínimo que os estudantes devem aprender a cada etapa de ensino,
estipulou que as crianças fossem alfabetizadas até o 2º ano do ensino
fundamental, ou seja, geralmente aos 7 anos.
Pelo Plano Nacional de Educação (PNE), lei 13.005/2014,
as crianças devem ser alfabetizadas, no máximo, até o final do 3º ano do ensino
fundamental, ou seja, aos 8 anos de idade.
Elevar os índices de alfabetização é uma das prioridades
do governo e a definição da política uma das metas dos 100 dias de governo. De
acordo com os últimos dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA),
aplicada em 2016, mais da metade dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental apresentaram
nível insuficiente de leitura e em matemática para a idade, ou seja dificuldade
em interpretar um texto e fazer contas.
A política será voltada também para os mais velhos. Uma
das ações previstas é o desenvolvimento de materiais didático-pedagógicos
específicos para a alfabetização de jovens e adultos da educação formal e da
educação não formal. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo no país entre pessoas com 15 anos
ou mais de idade foi estimada em 7% em 2017.
Para União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime), o decreto precisa de esclarecimentos sobre como se dará a
implementação. “A implementação depende de ações e estratégias, para que seja
levada adiante, elas vão falar com mais clareza”, diz o presidente da Undime,
Alessio Costa Lima. Segundo a assessoria de imprensa do MEC, ainda não há uma
data específica para a publicação do caderno explicativo.
O decreto não chega a especificar, mas coloca como
componentes essenciais para a alfabetização conceitos do método fônico. Os
componentes são: consciência fonêmica; instrução fônica sistemática; fluência
em leitura oral; desenvolvimento de vocabulário; compreensão de textos; e
produção de escrita.
“O melhor método é aquele que o professor se sente seguro
para utilizar, que faz o aluno ser alfabetizado”, defende o presidente da
Undime. Além disso, segundo ele, preocupa a priorização da alfabetização no
primeiro ano do ensino fundamental. “As crianças têm ritmos de aprendizagem
diferentes”. Os dirigentes municipais de educação defendiam que o decreto
mantivesse o prazo de alfabetização da BNCC, até o 2º ano do ensino
fundamental.
Participação da família
A presidente da Associação Brasileira de Alfabetização,
Isabel Frade, destaca outro ponto que precisa de esclarecimento, que é a
participação das famílias. Uma das diretrizes da política é “participação das
famílias no processo de alfabetização por meio de ações de cooperação e
integração entre famílias e comunidade escolar”, segundo o decreto.
“As famílias têm que ser chamadas a participar. Queremos
toda a perspectiva da família como agente de processo de letramento e elas
podem alfabetizar seus filhos. Mas, quais famílias? Com alta escolarização?
Famílias que ficam fora o dia inteiro? Que famílias são essas e o que significa
colocar essas famílias na política?” Ela ressalta ainda que, quanto ao método
de alfabetização, falta uma pesquisa nacional para verificar quais são as
práticas exitosas.
O decreto prevê que serão adotados mecanismos de
avaliação e monitoramento da Política Nacional de Alfabetização, tais como a
avaliação de eficiência, eficácia e efetividade de programas e ações
implementados e o incentivo ao desenvolvimento de pesquisas acadêmicas para
avaliar as ações da política.
Ministério da Educação
Em nota, o MEC diz que o objetivo da política é atingir
as metas previstas no PNE, de alfabetizar todas as crianças até o 3º ano do
ensino fundamental e de erradicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a
taxa de analfabetismo funcional até 2024.
“A PNA não determina nenhum método especificamente. A
adesão dos entes federados aos programas e às ações da PNA será voluntária”,
justifica a pasta, que destaca que a política “pretende inserir o Brasil em um
rol de países que escolheram a ciência como fundamento na elaboração de suas
políticas públicas de alfabetização, trazendo os avanços das ciências
cognitivas para a sala de aula”.
Fonte:
Agência Brasil
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