Estudo é do Departamento de Medicina da Universidade de SP
Os dados, publicados na revista Cancer
Epidemiology, fazem parte de um estudo realizado por pesquisadores do
Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP) e da Harvard University, nos Estados Unidos, com
apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O fumo contribui para mortes em todo o planeta. Dez por
cento da população brasileira é de fumantes (Banco Mundial/ONU)
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O levantamento aponta, por
exemplo, que a incidência de câncer de pulmão, de laringe, de orofaringe, de
esôfago, de colón e de reto poderia ser reduzida pela metade caso esses cinco
fatores de risco fossem eliminados. Leandro Rezende, pesquisador da FMUSP e um
dos autores do estudo, destaca que não se conhece outra forma de prevenir
tantos casos.
“O que nos surpreende é a
magnitude de casos e mortes que a gente conseguiria evitar a partir da redução
desses fatores de risco. Esse número deve chamar atenção para políticas
públicas de redução do risco de câncer no Brasil”, disse à Agência Brasil.
Estimativa da Organização
Mundial de Saúde (OMS) indica que, em 2025, os casos de câncer cresçam em até
50% no Brasil em decorrência do aumento e do envelhecimento da população.
Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país.
O levantamento da FMUSP,
contudo, aponta que, além das mudanças na estrutura populacional, o aumento da
prevalência desses cinco fatores de risco no estilo de vida do brasileiro pode
representar novos desafios para o controle do câncer na população.
Os pesquisadores traçaram
estimativas de redução da doença caso esses fatores sejam reduzidos.
“Trabalhamos com algumas
metas ou recomendações que são mais plausíveis de serem atingidas em nível
populacional e que estão presentes em alguns documentos e recomendações por
agências internacionais”, explicou Rezende.
Foi considerado o seguinte
cenário: o consumo de álcool com uma redução relativa de 10%, uma diminuição de
1 kg/m2 no índice de massa corporal na média da população, uma dieta de cálcio
de 200 mg a 399 mg por dia e a redução de 30% na prevalência do consumo de
tabaco.
Essas alterações, do ponto
de vista populacional, poderiam evitar 19.731 casos de câncer (4,5% dos casos)
e 11.480 mortes (6,1%).
Políticas públicas
Rezende destaca que essas
estimativas contribuem para formulação de políticas públicas na área de saúde
pública. Ele cita como exemplo o combate ao tabagismo no Brasil que conseguiu
reduzir para menos da metade a proporção de fumantes em relação a década de
1990.
“Hoje, aproximadamente 10%
da população brasileira fumam [antes, eram mais de 30%]. Quando o Brasil adotou
um pacote de medidas, leis e regulamentação do tabaco no Brasil, como a
tributação do cigarro, a proibição do consumo em local fechado, a gente teve um
impacto bastante positivo na saúde da população”, disse.
Atividades físicas contribuem para elevar qualidade de vida
e reduzir risco de doenças (Arquivo/Rovena Rosa/Agência Brasil)
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O pesquisador aponta que o
tabagismo é responsável por 67 mil casos de câncer por ano no Brasil, o
equivalente a 15,5% dos casos e 40 mil mortes.
“Tem um debate bastante
atual de que se deveria reduzir o imposto dos produtos derivados do tabaco para
diminuir o consumo de cigarro contrabandeado. É importante trazer a magnitude
do estrago que o cigarro faz na saúde da população quando se estimula o
consumo. Hoje, o Brasil é um case de sucesso e a gente,
primeiramente, precisa manter isso”, defendeu.
Um grupo de trabalho foi instituído em março deste ano pelo
Ministério da Justiça e Segurança Pública para avaliar “a conveniência
e oportunidade” da redução da tributação de cigarros fabricados no Brasil.
Para Rezende, o combate ao
tabagismo poderia servir de exemplo para a elaboração de outras políticas no
campo da alimentação.
“Rotulagem, restrições de
marketing e aumento de impostos de produtos da indústria de alimentos para
desestimular o consumo são propostas possíveis de serem implementadas pegando
emprestado o case de sucesso do tabaco para tentar reduzir o excesso de peso e
obesidade da população no Brasil”, sugeriu.
Ele lembra que o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério
da Saúde, recomenda que sejam consumidos principalmente produtos in natura e
que se evitem alimentos processados, especialmente ultraprocessados.
Metodologia
A pesquisa partiu do
consenso na literatura científica de que cinco fatores de risco – tabagismo,
consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de
atividade física – estão associados a 20 tipos de câncer.
O que o novo estudo fez foi
calcular a fração atribuível populacional (FAP) da doença relacionado a dados
populacionais sobre o índice de massa corporal (IMC) elevado, consumo de
cigarro, álcool, prática de atividade física e informações sobre a alimentação.
De acordo com os
pesquisadores, a FAP é uma métrica que estima a proporção da doença possível de
prevenir na população caso os cinco fatores de risco fossem eliminados,
mantendo as demais fatores/causas estáveis.
Os dados sobre a
distribuição dos fatores de risco do estilo de vida foram calculados a partir
da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, para estimar consumo de álcool,
índice de massa corporal (IMC), consumo de frutas e hortaliças, atividade
física, tabagismo e fumo passivo entre não fumantes no Brasil.
Foi utilizada também a
Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre 2008 e 2009
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para obter o
consumo alimentar de fibras, cálcio, carne vermelha e processada.
Fonte: Agência Brasil
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