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| Foto: Reuters |
Restam apenas duas etapas
para o encerramento do campeonato, o GP do Brasil, dia 11, e o de Abu Dhabi,
25. Você concorda que Mercedes e Ferrari, na média, tiveram nas 19 provas já
disputadas desempenho bem semelhante? Nas duas últimas, por exemplo, neste
domingo, no México, e na semana anterior, nos Estados Unidos, a Ferrari de
Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen foi algo mais rápida.
Já nas quatro anteriores,
Itália, Singapura, Rússia e Japão, todas vencidas por Lewis Hamilton, a
Mercedes demonstrou um pouco mais de eficiência. Mas, como pensa a maioria, um
GP pelo outro é possível dizer que tanto Hamilton quanto Vettel estão tendo,
este ano, as mesmas oportunidades de demostrar sua capacidade.
Nesta temporada, em
particular, diante de os modelos W09 da Mercedes e o SF71H da Ferrari
apresentarem velocidades bem parecidas, podemos reduzir a importância do
equipamento no resultado da luta entre seus pilotos, Hamilton e Vettel.
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Lewis Hamilton e Kimi
Raikkonen no GP dos EUA — Foto: Getty Images
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Não estaríamos sendo justos
se não colocássemos na balança de Vettel um pequeno peso maior do da Mercedes,
desequilibrando a disputa em favor de Hamilton. Esse peso corresponde aos erros
cometidos pelas equipes. Mas não a ponto de impedir Vettel de poder lutar pelo
título nas corridas finais do calendário. Não justificam tudo isso.
Dessa forma, a denominação
Campeonato Mundial de Pilotos de F1, em 2018, faz todo sentido.
É insofismável, venceu o
piloto que melhor soube aproveitar todas as oportunidades que teve, quem tirou
o máximo possível em cada condição e, fundamental em uma disputa ponto a ponto,
não cometeu erros. Hamilton recebeu o reconhecimento até mesmo do adversário,
Vettel, quando afirmou, neste domingo, no Circuito Hermanos Rodriguez, que
“Lewis foi melhor”.
Estatística favorável
Os números comprovam essa
superioridade. Enquanto Hamilton ganhou noves vezes este ano, Vettel levou para
a Ferrari cinco vitórias. Hamilton largou na pole position em nove GPs, Vettel,
em cinco. A maior regularidade de Hamilton, em alto nível, o fez chegar no
pódio em impressionantes 15 GPs, diante de 11 de Vettel. E nas quatro provas,
apenas, em que não esteve dentre os três primeiros não teve responsabilidade.
Na China, sofreu com os
pneus, não tinha o ritmo da Ferrari e mesmo da RBR, foi quarto. No Canadá,
viveu situação semelhante, quinto. Uma pane hidráulica o fez abandonar o GP da
Áustria e neste domingo, na Cidade do México, novamente os pneus o impediram de
obter mais da quarta colocação.
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GP Singapura Hamilton Vettel — Foto: Reuters
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Esse não é, com certeza, o
gráfico de performance de Vettel. Diferentemente de Hamilton, não explorou todo
o potencial de seu carro, de cada corrida. O oitavo lugar na China decorreu de
Max Verstappen, da RBR, errar e bater na Ferrari, mas na quarta colocação em
Baku, no Azerbaijão, sua responsabilidade foi direta. Errou ao tentar
ultrapassar Valtteri Bottas, da Mercedes. Poderia ter vencido.
A coleção de pontos perdidos
de Vettel é extensa. Os dez pontos do quinto lugar na França poderiam ter sido
no mínimo 15, do terceiro, se não tivesse batido na traseira da Mercedes de
Bottas depois da largada. Os 15 da Áustria poderiam ser 25 da vitória não
tivesse se mantido na trajetória de Carlos Sainz Júnior, da Renault, na
classificação e fosse punido no grid. Os dois pilotos da Mercedes abandonaram.
Na Alemanha, Vettel cometeu o maior pecado do ano, ao simplesmente não somar
pontos. Pior: tinha 25 nas mãos. Bateu sozinho quando liderava.
Não acabou, toques na
primeira volta na Itália, no Japão e nos Estados Unidos da mesma forma levaram
Vettel a somar bem menos pontos do possível.
A lição de Rosberg
Nico Rosberg, o único
companheiro de equipe de Hamilton a vencê-lo na disputa de título, em 2016, na
Mercedes, falou sobre o desafio de Vettel.
- Para vencer Lewis você
precisa ser perfeito, não desperdiçar nenhuma chance de marcar o máximo de
pontos, como fiz há dois anos. Não é o que Sebastian está fazendo. Não é assim
que se ganha um campeonato quando o adversário é Lewis.
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nico rosberg, lewis hamilton, mercedes, abu dhabi — Foto:
Getty Images
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Descrevemos a sequência de
ocasiões em que Vettel não levou para casa tudo o que podia. Você é capaz de
apontar um único exemplo de Hamilton onde aconteceu o mesmo nesta temporada?
Como estamos em um
campeonato onde a eficiência do carro tem sido, como mencionado, parecida, na
média, fica mais claro, agora, por que Hamilton celebrou neste domingo a
conquista do quinto título da brilhante carreira? Foi mais piloto.
Outro patamar
De tempos em tempos a F1
registra essas coisas. Um de seus pilotos estabelece novo patamar de
performance, mais elevado, daqueles que muitos anos mais tarde os fãs da
competição e mesmo profissionais do evento vão se lembrar como parte da
antologia do mundial. A temporada de 2018 de Hamilton já entrou nessa galeria.
Outros exemplos: Ayrton
Senna, em 1993, na McLaren, mesmo não tendo sido primeiro, mas segundo.
Fernando Alonso, campeão em 2006, na Renault, ao superar Michael Schumacher,
Ferrari, no seu auge. Michael Schumacher, em 2003, de Ferrari, depois de uma
batalha espetacular com Kimi Raikkonen, McLaren, e Juan Pablo Montoya,
Williams.
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Senna e Prost juntos no
pódio de Suzuka, em 1993 — Foto: Getty Images
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Chama a atenção na conquista
de Hamilton, este ano, o fato de ser o seu 12º campeonato. Aos 33 anos, em vez
de demonstrar certa estagnação ou mesmo o início de queda de produção, Hamilton
responde com o seu máximo. Depois de tantos anos, não é comum. Há um consenso
de que nunca Hamilton pilotou tão bem como este ano. As estatísticas reforçam o
que quase todos pensam.
Wolff, impressionado
Também não é normal um
piloto já consagrado, milionário, quatro vezes campeão, sentir-se tão
estimulado como Hamilton este ano. Depois da sua vitória em Sochi, na Rússia,
Toto Wolff, diretor da Mercedes, nas conversas informais com os jornalistas,
disse:
- Eu me impressiono com
Lewis, ele vai à fábrica com frequência, permanece horas com os engenheiros,
discutindo, sugerindo o que fazer para tentar ganhar alguns milésimos de
segundo. E depois vai para o simulador checar se aquilo funciona.
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Lewis Hamilton e Toto Wolff,
chefe da Mercedes — Foto: Divulgação/Facebook
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Hamilton é um trabalhador. O
que aparece nos autódromos é apenas a ponta do iceberg. Como explicou Wolff,
antes de chegar nas pistas o inglês já investiu horas e horas nas reuniões com
os técnicos. E quando as coisas não vão bem, a exemplo deste fim de semana, no
México, com os pneus, tenta de tudo para atenuar suas dificuldades, não desiste
nunca. Bottas passou pelo mesmo, mas enquanto Hamilton recebeu a bandeirada em
quarto, o finlandês fez um pit stop a mais, três, e tomou uma volta do
vencedor, Max.
Emocional, o forte
Além de um grau de dedicação
extraordinário, Hamilton demonstrou este ano algo que não era o seu forte, o
controle emocional, justamente o fator que mais contribuiu para Vettel não
estender a disputa do título, com chances de ser campeão, para as duas etapas
finais. Em Monza, Hamilton ficou em terceiro na definição do grid, a dupla da
Ferrari em primeiro e segundo, Raikkonen e Vettel, para delírio dos tifosi. Ao
ouvir as vaias da torcida, enquanto falava ainda na pista com o entrevistador,
afirmou:
- As vaias me energizam.
Estava dizendo a verdade. Na
corrida ultrapassou Vettel e Raikkonen, venceu na casa do concorrente e começou
lá, em Monza, a arrancada para conquistar o campeonato, com quatro vitórias
seguidas.
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Lewis Hamilton no pódio do
GP da Itália — Foto: Dan Istitene/Getty Images
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As curvas de desempenho de
Hamilton em cada característica usada para analisar um piloto evidenciam
acentuada ascensão este ano e, como citado, na sua 12ª temporada na F1. A
saber: velocidade, constância, dedicação, serenidade, determinação,
entendimento com a direção da equipe, relação com os engenheiros, capacidade de
reação, dentre outros.
Novo pacote pessoal
Enquanto seria de se esperar
que o melhor de Hamilton já havia sido apresentado nesse tempo todo de F1, eis
que ele surge, este ano, com um pacote de revisão interior capaz de deixar
todos de boca aberta, pelo salto de eficiência global.
Quem acompanhou o GP do
México viu Hamilton chamar repetidas vezes uma pessoa para se aproximar dele,
logo depois de sair do carro. Era Angela Cullen, sua fisioterapeuta,
nutricionista, conselheira, enfim, confidente.
O GloboEsporte.com perguntou
ao piloto o que o fazia pilotar tão bem, este ano. Foi em Hockenheim, depois de
sair da 14ª colocação no grid, por pane hidráulica no sábado, incrivelmente
vencer a corrida e assumir a liderança do campeonato, já que Vettel, com o erro
e abandono, não marcou pontos.
- Eu não acho que estou
pilotando tão bem assim, há sempre onde melhorar. Eu me alimento melhor hoje,
como diferente do que fazia, e faço mais coisas que me deixam feliz.
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Lewis Hamilton com Angela
Cullen, sua fisioterapeura e nutricionista — Foto: Reuters
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Angela tem papel importante
nessa história. Junto de outros profissionais, estabeleceu um programa de
treinamento físico e mental para o piloto, uma nova dieta, ao que se sabe a
fonte de proteína não é carne vermelha e, o mais importante, fez Hamilton
enxergar não ser pecado curtir a vida como tanto gosta.
O piloto está investindo no
ramo da moda, dentre outros, já desenhou uma coleção de roupas, a apresentou em
Nova York, e por conta disso chegou em Monza, no fim de semana de GP, no início
de setembro, na quinta-feira no fim da tarde, quando deveria estar lá desde o
período da manhã. A reunião com os engenheiros ficou para mais tarde. A com a
imprensa, cancelada.
Foge
às regras
Em Sochi, Wolff comentou com
os jornalistas que conversam com ele fora dos momentos da coletiva. O
GloboEsporte.com estava presente.
- Lewis é um personagem
fascinante, aprendo com ele, apesar de eu ser uns 15 anos (13) mais velho. Você
não pode usar os padrões normais para entendê-lo. É um dos únicos pilotos,
senão o único, que na quinta-feira não faz o track walk (percorrer a pista a pé
com os engenheiros). E tem um modo de vida único, também, viaja muito. (Com seu
jato privado vai com frequência aos Estados Unidos, onde tem negócios, dentre
eles sua grife e uma gravadora, no Colorado).
Wolff falou mais:
- Mas veja os resultados que
obtém. Dá para dizer que essa maneira diferente de ser, aparentemente
contraditória ao que faz, ser piloto de F1, não funciona? Eu nunca vi um piloto
produzir em um nível tão alto, por tanto tempo sem cometer um único erro
comprometedor. Não há dúvida de que Lewis é um homem feliz, por isso está sendo
mais capaz de mostrar seu imenso talento natural.
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lewis hamilton jatinho
bombardier formula 1 montreal gp canada — Foto: Reprodução/Instagram
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Ao longo das conversas
informais com a imprensa, Wolff, um ex-piloto de monopostos, carros de turismo
e de rali, afirma ser um fã de Hamilton.
- Ele vence quando larga na
pole, no meio e no fim do pelotão. Sabe correr se está em primeiro ou precisa
vir lá de trás. Não podemos dizer hoje qual o ponto fraco de Lewis, eu pelo
menos, mesmo dispondo aqui na equipe de todos os meios, não vejo.
Vale muito a pena
É por isso que Wolff acabou
por renovar o contrato de Hamilton com a Mercedes, anunciado durante o GP da
Alemanha, por mais dois anos, como desejava o piloto, pagando 40 milhões de
libras (R$ 225 milhões) por temporada, mais prêmios. Nos seus 227 GPs, de 2007
até agora, Hamilton conquistou 71 vitórias, 81 poles e 132 pódios. Este último
dado é marcante. Sua média de pódios por largada é 58,14%, já a melhor de todos
dos tempos.
Ron Dennis, sócio e diretor
da McLaren, no fim de 1991, logo depois de Senna conquistar seu terceiro título
mundial, em quatro anos, disse em entrevista ao hoje repórter do
GloboEsporte.com:
- Às vezes vale muito a pena
você pagar mais para um profissional, piloto, projetista, porque você sabe que
ele irá representar, no fundo, uma economia. Há ocasiões em que você investe
determinado valor, alto, para tentar ganhar três décimos de segundo, por
exemplo, mas não tem nenhuma garantia de que irá conseguir tornar o carro mais
rápido. Ao passo que o valor a mais que você paga para esses pilotos ou
engenheiros representa uma garantia de que obterá algo importante a mais, às
vezes decisivo.
As palavras de Dennis,
pronunciadas há 27 anos, poderiam perfeitamente ser repetidas por Wolff, agora,
em relação a Hamilton. Ele faz a diferença. E que diferença!
Fonte: Globoesporte









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